Curiosidade de mim


Não é fácil se definir. Na verdade, sou contra definições. Acredito que nossa personalidade está sempre em processo, que estamos em constante mutação. Sem dúvida alguma, essa opinião está enraizada em mim, faz parte de minha essência; me persegue mesmo quando desejo me enquadrar, mesmo quando desejo me entregar. Há algo em mim que não me deixa parar, não me deixa descansar, me leva sempre a buscar, buscar, buscar... às vezes não sei o quê.

Posso me descrever assim: sou alguém a procurar. Busco o desconhecido, busco o novo, busco o desafio, busco o que me completa. Sim, me sinto incompleta. Não sei se um dia completa serei. Por vezes, acho a plenitude fugaz e ilusória. Na maior parte do tempo, considero que ser incompleto é o que realmente nos torna reais. Faz ir além.

Tive uma criação tradicional: aprender coisas de mulher, pensar coisas de mulher, fazer coisas de mulher - ser mulher. Mas minha natureza é inquieta: eu queria aprender coisas de homem, pensar coisas de homem, fazer coisas de homem - ser mulher. Eu queria mais do que a sociedade machista patriarcal reservava para mim, eu queria mais do que a sociedade capitalista me designava. Eu queria ser um ser: pensante, ativo - eu queria ser um sujeito. E esse sujeito me tornei. Desfiz amarras na família, entre amigos: incompreendida me fiz. Compreendida de mim. Satisfeita de mim. Me fiz.

Que meu espírito revolucionário tenha feito parte disso: sim! Que minha curiosidade tenha grande parte nisso: sem dúvida! A verdade é que, dentre quatro filhas mulheres, eu, a caçula, fui a que mais portas abri, a que caminhos mais incertos percorri, a que mais tortuosidades venci! E assim até agora vivi!

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